Nos dias 17 e 18/09 estivemos em Porto Alegre para correr o Ultra Desafio Farroupilha, ultra-maratona de revezamento com duração de 24 horas. Eu, Duda, Giovani e Carlos formamos a equipe que contava com o apoio da Costaneira.
Nenhum de nós havia feito algo parecido. Na verdade, nenhum de nós havia corrido mais do que uma meia-maratona e isso é que deixava o desafio ainda maior, pois a quilometragem mínima para que cada atleta pudesse validar sua participação era de 43 km, ou seja, mais do que uma maratona.
Logo na chegada vimos que ninguém que lá estava tinha ido para brincar. Tínhamos equipes tradicionais como SOGIPA e Petiskeira, gente com muita infraestrutura de apoio e muito fortes fisicamente.
Montamos nosso acampamento, tiramos algumas fotos e às 10:00h foi dada a largada. O circuito tinha 3.000 metros e nossa estratégia, já que nenhum de nossos atletas tinha percorrido distâncias mais longas, era fazer trocas o mais rápido possível e desta forma manter um ritmo bom. Combinamos de que cada um fizesse o circuito no seu ritmo de uma corrida de 10km.
Conseguimos manter esse ritmo de 13, 14 km/h por 10 horas. No início da noite eramos os terceiros e andando muito bem. Mas surgiram os primeiros sinais de cansaço, o intervalo de descanso parecia insuficiente para recuperação e era penoso recomeçar cada volta depois do descanso. Os tempos do Duda e Giovani, que eram em torno de 16 minutos por volta, cairam para mais de 20. Nossas voltas que eram em torno de 50 minutos foram para mais de uma hora.
O que fazer? Tentamos cada um fazer duas voltas e com isso ter um descanso maior. Não adiantou, mesmo com esse descanso maior nossos tempos não voltaram aos valores anteriores. Não conseguíamos baixar de 1 hora para completar 4 voltas (12 km).
Depois da meia-noite a coisa ficou crítica. Lesões começaram a aparecer. Carlos substituiu Giovani em uma volta. Ele ainda tentou fazer mais uma volta depois, mas terminou e disse que não dava mais prá continuar. O tempo do Duda era de quase meia-hora, sinal de que coisas erradas podiam começar a acontecer com os atletas, estava na hora de raciocinar.
E, prá completar, começou a chover. Já tínhamos perdido posições, o desânimo era total e o pessoal precisava descansar mais tempo. Meio 'grogues', meio desistindo, totalmente frustrados, dormimos.
Acordei lá pelas 6:00, com gritos de algumas equipes que também chamavam atletas que estariam voltando a correr. A chuva tinha diminuído, levantei, cambaleei até a organização e vi que tinha um café preto quentinho disponível. Comi um pouco e quando a cabeça voltou a funcionar retornei até a barraca e me preparei para continuar. Carlos acordou nessa hora e falei que eu ia continuar rodando, mesmo que fosse devagar, pelo menos para aumentar nossa quilometragem final. E lá fui eu na garoa.
Completei a primeira volta e na chegada estava o Carlos, com todo gás, hehehe... Bom, vamos lá, então! E ficamos revezando nós dois. Estávamos quase 8 voltas atrás dos quartos colocados. No final, rodamos ainda 30 km nas 3 horas finais e deixamos 6 voltas de vantagem. Fechamos com 220km.
Posso dizer que talvez o fato de não ter chegado nos 250 km tenha me frustrado um pouco. Analisando, vejo que a meta era realizável, com mudanças na estratégia a gente chegaria lá. Mas, pessoalmente, ter completado 60km correndo para mim foi muito bom. Muito além do que eu já tinha feito até hoje.
Aprendi também que cada esporte exige preparações completamente distintas. O pessoal que treina especificamente corrida estava anos-luz na nossa frente, em termos de preparo. E eram extremamente regulares na sua corrida. Os segundos colocados, por exemplo, fizeram ABSOLUTAMENTE TODAS voltas entre 14 e 15 minutos (entre 12 e 13 km/h), do início ao fim, sem intervalos.
São coisas que a gente aprende e pode levar para os nossos treinos.
Parabéns aos guerreiros da Adrennon/Costaneira. Como já comentaram no meu Facebook, tem que ter 'determinação' (o termo usado foi mais pejorativo, hehehe) prá fazer uma prova assim, e os quatro mostraram que tem de sobra. Valeu Carlos, Duda e Giovani!
As fotos vem durante a semana.
Abraço
Jean
Adrennon
Boa noite Jean,
ResponderExcluirA coisa não é fácil....
Não sei se foi você que me perguntou no meio da prova, enquanto jantávamos eu acho, se eu tinha música no mp3 para rodar as 24 horas, e eu disse, que as vezes desligava o som.
Sem dúvida muita coisa aconteceu nestas 24 horas de prova, e muita coisa se perde no meio de tantas "viajadas" que damos em função do cansaço.
Mas fico feliz de ter participado e ter completado 147 km no individual.
E vcs também estão de parabéns por terem enfrentado tamanho desafio.
Abraço,
Marcelo Ramos Raymundo
Rapaz, difícil ter certeza do que aconteceria se a estratégia fosse diferente, mas acredito que vcs realmente erraram em dar 1 volta cada 1 no início. O descanso foi muito curto, e o ritmo devia ser mais lento para poder aguentar mais. De qqer forma, foi uma excelente performance. Claro que ver o ritmo caindo sempre dá uma sensação de frustração, mas errar faz parte do processo de aprendizado. Tu citaste o ponto principal na corrida: regularidade. Não importa a distância, 5, 10, 42km, 60. A gente tem que ter ritmo constante. Isso faz muita diferença. Nós (sou do 3º lugar) tivemos, mas mesmo assim não houve como pegar o 2º que era ligeiramente mais rápido e tbém constante. Faz parte. Nos encontramos nas próximas. Abç
ResponderExcluirMarcelo, parabéns para você também. Fiquei tentando me imaginar correndo sozinho, como você fez, e veio um misto de desejo e receio. Foi muito legal acompanhar tua família aguardando tuas passagens, a menina tirando fotos, ambas torcendo por ti, legal mesmo.
ResponderExcluirAbraço
JC, você cita a coisa mais importante: "processo de aprendizado". Isso vale para as nossas corridas de aventura e mudam os temas mas continua valendo nas corridas longas. Tem que aprender a interpretar os sinais do corpo, tem que aprender a comer e beber nas horas certas, tem que achar o ritmo ideal e por aí vai.
ResponderExcluirPosso dizer que foi um excelente 'debut' nas provas longas. Com certeza nos veremos nas corridas por aí.
Grande abraço.